quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Omissão criminosa

Espera-se que os responsáveis por esse desastre de proporções inéditas, que cobriu o País de vergonha e indignação, sejam devidamente castigados, à altura do crime cometido. Pois é de crime que se trata.


Notas & Informações | O Estado de S.Paulo
29 Janeiro 2019


EDITORIAL

O Brasil parece incapaz de punir quem age de maneira irresponsável e coloca em risco a vida de terceiros. Se o fizesse, conforme mandam a lei e os imperativos morais, quase com certeza tragédias como a ocorrida em Brumadinho (MG) não ocorreriam.

Em meio à comoção geral que esses terríveis eventos suscitam, autoridades se apressam a prometer rigor na investigação dos fatos, na identificação dos culpados e na edição de medidas para impedir que os desastres se repitam. As empresas envolvidas pedem desculpas e se comprometem a renovar seus protocolos de segurança, e o Ministério Público promete caçada implacável aos criminosos. O País já viu esse filme incontáveis vezes, sempre com o resultado da impunidade geral.

Espera-se que, ante as centenas de vítimas soterradas sob 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de mineração, nesse desastre de proporções inéditas que cobriu o País de vergonha e indignação, os responsáveis sejam devidamente castigados, à altura do crime cometido. Pois é de crime que se trata.

Mas o fato é que, passados alguns dias da ruptura da barragem da mineradora Vale, tudo se repete como nas tragédias anteriores. O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, pediu “desculpas a todos os atingidos, à sociedade brasileira”, embora considere o desastre “indesculpável”. Em seguida, porém, assegurou que a Vale, “uma empresa muito séria”, “fez um esforço imenso” e tomou “uma lista infindável de ações” para “deixar nossas barragens na melhor condição possível” – tudo isso, disse o executivo, “especialmente depois de Mariana”.

A cidade mineira de Mariana virou sinônimo de tragédia ambiental em novembro de 2015, quando houve ali a ruptura de uma barragem de rejeitos de mineração, soterrando sob 43 milhões de metros cúbicos de lama vários distritos da região, matando 19 pessoas e causando o que até agora era considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil. A barragem era de responsabilidade da mineradora Samarco, controlada por uma joint venture entre a Vale e a mineradora anglo-australiana BHP Billiton. Na ocasião, a direção da Samarco também garantiu ter cumprido todas as exigências de segurança para prevenir acidentes como aquele.

Ou as empresas envolvidas nessas tragédias faltam com a verdade quando dizem ter seguido todos os procedimentos de segurança, ou esses procedimentos são evidentemente insuficientes. Tanto em Mariana como em Brumadinho, as barragens eram consideradas de “baixo risco” de acidente pelas autoridades responsáveis pela fiscalização. Não é preciso ser especialista para concluir que há algo de errado nessas avaliações, até porque, nos dois casos, não houve acidente natural. O que houve foi a escolha deliberada de tipos de barragem de baixo custo e alto risco, acrescida de fiscalização e controle no mínimo desidiosos.

Depois do que aconteceu em Mariana, esperava-se que a comoção nacional gerasse ações concretas para impedir sua repetição. Na ocasião, constatada a insuficiência da fiscalização, foram feitas promessas de maior rigor na manutenção das barragens e garantiu-se que haveria reparação para as famílias atingidas. Três anos depois, a fiscalização continua insuficiente, poucas famílias receberam indenização e nenhum executivo ou autoridade respondeu por seus atos ou omissões.

O governo montou um “gabinete de crise” para acompanhar os desdobramentos do desastre de Brumadinho, mas a maior crise a ser administrada é moral, e isso “gabinete de crise” nenhum será capaz de fazer.

A tragédia de Mariana, os deslizamentos de terra que mataram centenas de pessoas em morros do Rio de Janeiro, o incêndio da boate Kiss, que matou 242 pessoas há cinco anos, e outras catástrofes que revoltaram os brasileiros nos últimos tempos têm algo em comum entre elas, além do grande número de vítimas: em nenhum dos casos, os responsáveis foram punidos. E a sequência dos casos sinistros é a evidência de que “fiscalização”, para o poder público, é um amontoado de letras sem qualquer significado.

Agora, no caso de Brumadinho, urge que o Estado aja com firmeza para que os culpados realmente paguem pelo que fizeram – dos empresários que, além de arriscar seus capitais, colocaram vidas em perigo, até os funcionários públicos, que se omitiram criminosamente. Aí está a chave para evitar que tais desastres se repitam.

Quando a impunidade mata

domingo, 27 de janeiro de 2019

Justiça determina bloqueio de R$ 11 bilhões da Vale


O rompimento da barragem de Brumadinho, na sexta-feira, deverá gerar um “dano humano” maior do que o provocado pelo desastre de Mariana (MG), lamentou Fabio Schvartsman, presidente da Vale. Bloqueio judicial se justifica diante da “incerteza do futuro financeiro” da mineradora.

Leia AQUI a decisão judicial na íntegra.



Bombeiros procuram corpos na lama. Foto: Douglas Magno/AFP

Lama que atingiu a cidade de Brumadinho/MG. Foto: Washington Alves/Reuters

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Cortando à espada o nó górdio do atraso



Tenho acompanhado as diversas tomadas de posição do presidente Jair Messias Bolsonaro e dos seus ministros e considero – na visão de um velho professor e advogado – que os temas abordados são particularmente relevantes para o futuro do nosso país.

Embora com uma certa estridência entre as manifestações de improviso e as decorrentes de estudos e pesquisas, a linha na área econômica é correta e está de acordo com os que formataram a Constituição da República de 1988, no Título VII, voltado para a economia de escala e de mercado. Pela primeira vez constaram de um texto constitucional brasileiro os princípios da livre concorrência (artigo 170, inciso IV) e do planejamento econômico estatal não obrigatório para o setor privado (artigo 174).

A própria dualidade da iniciativa econômica foi bem caracterizada, apenas se admitindo a presença do Estado na economia no tocante aos serviços públicos (artigo 175) ou à segurança nacional e a relevante interesse coletivo (artigo 173, caput). Por outro lado, no sistema tributário exigiu-se o respeito à capacidade econômica e ao não confisco (artigos 145, parágrafo 1.º, e 150, inciso IV), propugnando-se pela imposição justa.

Ora, a equipe econômica pretende a privatização de grande parte das empresas estatais – o Estado, no Brasil e no mundo, tem se revelado um mau empresário – e a redução da carga tributária, para que a sociedade cresça e a quantidade de burocratas diminua. Em outras palavras, o cipoal criado pela burocracia para se manter no poder, amarrando as melhores iniciativas, o governo Bolsonaro objetiva desfazer, se necessário, cortando à espada o nó górdio do atraso.

No campo da segurança nacional, expõe duas linhas de ação muito claras. Não está na Constituição que os índios devam ocupar terras que já não ocupavam ao tempo da promulgação da Carta, embora as tivessem ocupado no passado. A Carta Magna claramente fala em terras que “ocupam”, presente do indicativo, e não “ocuparam”, pretérito perfeito. Não é crível que a indígenas e quilombolas – seus remanescentes são, na verdade, muito poucos – se entreguem territórios equivalentes a quatro Alemanhas! A população que ocupa 15% do Brasil é inferior a 1 milhão de pessoas de variadas nacionalidades (venezuelanas, peruanas, bolivianas, paraguaias, etc.), pois é a etnia que determina seu direito.

Mais do que isso: tais áreas, ricas em minérios e biodiversidade, estão sujeitas a exploração predatória e contrabandeada. Como a Constituição declara que as terras são da União, devem-se garantir os direitos dessas comunidades, porém nas áreas que ocupavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da nossa Lei Maior.

Por outro lado, nada melhor do que o Ministério da Defesa ser entregue a especialistas na área, que são os militares. 

Nos Comentários à Constituição do Brasil, que Celso Bastos e eu elaboramos, pela Saraiva, em 15 volumes e 12 mil páginas, abordamos os três temas, que hoje se encontram em rigorosa consonância com as manifestações do presidente Jair Bolsonaro. Acrescento um quarto tema, que é a preocupação com a preservação da família e da dignidade da pessoa humana, esta última como valor maior a ser exaltado, a partir da inviolabilidade do direito à vida (artigo 5.º, caput).

É interessante notar que o artigo 226 da Constituição declara que a família, constituída pela união entre homem e mulher, é a base da sociedade e o Estado tudo fará para protegê-la. Garante ao casamento religioso entre homem e mulher efeitos de casamento civil e assegura, nos parágrafos 1.º ao 5.º, direitos à união estável, sempre entre homem e mulher. Em nenhum momento falou a Constituição na união ou no casamento entre pares do mesmo sexo.

À evidência, o governo não deve promover nenhum tipo de discriminação, até porque isso é vedado pela Constituição. Apenas é necessário reconhecer que o casamento previsto na nossa Carta Magna, civil ou religioso, só cuida da união entre homem e mulher.

Não caberia, pois, ao Supremo Tribunal Federal (STF) acrescentar ao artigo 226 da Lei Maior disposição nela não constante.

As manifestações do presidente da Suprema Corte, o eminente ministro José Antonio Dias Toffoli, parecem seguir essa linha. Os Poderes são harmônicos e independentes. Não deve haver interferência nas competências constitucionais de cada um deles por nenhum outro Poder.

Essa é a razão por que o presidente Dias Toffoli, com fantástica objetividade e precisão, definiu o que consta do artigo 2.º da Constituição, que fala em “harmonia” – há que haver diálogo entre os Poderes –, mas também em “independência” dos Poderes. Bem por isso, cabe ao Legislativo projetar o Brasil para o futuro, dotando-o das leis necessárias a tal desiderato; cabe ao Executivo governar no presente, aplicando-se e gerando a paz social e o desenvolvimento; e cabe ao Judiciário julgar o passado e, como legislador negativo, apenas não dar curso às leis inconstitucionais, mas não substituir os outros Poderes.

Como se percebe nas palavras do presidente da República, pretende-se governar de acordo com a vontade do povo brasileiro, preservando os seus valores, cumprindo a Constituição, realçando o amor à pátria, com a disciplina e o espírito cívico que Jair Bolsonaro aprendeu na Academia Militar das Agulhas Negras, onde a punição ao cadete que cola numa prova é a expulsão, visto que é inadmissível a deslealdade entre aqueles que devem servir à Nação.

É o que o Brasil espera do novo governo.



IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, O Estado de S.Paulo ,24 Janeiro 201
Temas relevantes do governo Bolsonaro

 

IVES GANDRA É PROFESSOR EMÉRITO DAS UNIVERSIDADES MACKENZIE, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, DO CIEE/O ESTADO DE S. PAULO, DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA E DA MAGISTRATURA DO TRF-1, É FUNDADOR E PRESIDENTE HONORÁRIO DO CENTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA (CEU)/INSTITUTO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS (IICS)

Sem brilho, porém sem desastre


Bolsonaro, a menos que surja outra interpretação plausível, foi incapaz de aguentar a tensão em seu primeiro teste internacional.


Notas & Informações | O Estado de S.Paulo
24 Janeiro 2019

Editorial

Num vexame sem precedente, o presidente Jair Bolsonaro evitou a imprensa em Davos, cancelando uma entrevista e deixando jornalistas e cinegrafistas brasileiros e estrangeiros à sua espera numa sala do Fórum Econômico Mundial. Quinze minutos antes do evento, marcado para as 16 horas, plaquinhas com os nomes do presidente e dos ministros Paulo Guedes, Sergio Moro e Ernesto Araújo estavam sobre a mesa destinada aos entrevistados. Pouco antes das 16 horas já se sabia da desistência de Bolsonaro. Jornalistas de plantão no hotel do presidente passaram aos colegas a confirmação do cancelamento e a explicação: Bolsonaro havia desistido de aparecer por causa da “abordagem antiprofissional da imprensa”. A justificativa foi dada, no hotel, por um assessor presidencial. Às 16h15, o Fórum cancelou oficialmente o encontro.

Logo correu entre os jornalistas credenciados em Davos outra explicação para a inusitada atitude de Jair Bolsonaro: a entrevista foi cancelada porque o novo presidente brasileiro é incapaz de se comportar como um chefe de governo, ou, em termos mais simples, como uma figura pública preparada para exercer esse papel.

Bolsonaro, a menos que surja outra interpretação plausível para sua atitude, foi incapaz de aguentar a tensão em seu primeiro teste internacional. O teste havia começado no dia anterior, quando ele foi cautelosamente conciso ao discursar numa sessão do Fórum. Passou pela prova sem brilho, mas também sem desastre. Conseguiu transmitir com firmeza uma parte importante de sua mensagem: o compromisso de criar no Brasil um ambiente favorável aos negócios, com menor tributação, maior segurança jurídica e regras menos complicadas. Mas desapontou quem esperava uma exposição mais clara dos planos, com indicação, por exemplo, das etapas de ajuste fiscal e dos passos para dinamização da economia.

Deixou, com essa apresentação, uma impressão mista – de cautela num terreno desconhecido, mas também de preparo insuficiente para a prova. No Fórum Econômico Mundial, apresentações de governantes, em sessões especiais, seguem geralmente um ritual. Depois de um discurso de até 30 minutos, o convidado responde a perguntas formuladas pelo fundador e presidente da instituição, o professor Klaus Schwab. O discurso durou 6 minutos, num prodígio de concisão para quem pretende anunciar os planos de um novo governo. Em seguida, houve respostas quase telegráficas às perguntas do anfitrião. Schwab pareceu encerrar a entrevista principalmente por desalento, concluindo em 15 minutos um evento programado para meia hora.

Bolsonaro acertou ao falar sobre a criação de condições mais favoráveis aos negócios. O Brasil se destaca negativamente, nas comparações internacionais, pelo ambiente ruim para a vida empresarial. As queixas normalmente acentuam o peso da tributação, a complicação do sistema tributário, a insegurança legal e cipoal de regras burocráticas. Tem havido melhoras em alguns pontos, com a redução, por exemplo, do tempo necessário para abrir ou fechar uma empresa ou dos procedimentos para importar ou exportar. Mas é preciso ir muito mais longe e o governo dará um bom sinal aos investidores se entrar de forma decidida por esse caminho.

O recado seria muito mais interessante se adiantasse, por exemplo, informações sobre como o governo poderá reativar os investimentos em infraestrutura, indicando a participação esperada do capital privado.

Vários ministros mexeram no discurso. Produziram um mexidão com ideologia e insuficiência de informação relevante. Foi mais uma versão requentada de um discurso eleitoral. Mesmo os frequentadores mais conservadores de Davos devem estar pouco interessados na restauração dos valores da família brasileira. Os menos pacientes devem ter achado patética a afirmação sobre como foi escolhida a equipe de governo. “Pela primeira vez no Brasil”, disse Bolsonaro, “um presidente montou uma equipe de ministros qualificados.”

Ele ainda tentaria, em vários encontros e com a entrevista marcada meio de improviso, transmitir ideias mais claras e falar com maior pragmatismo. Mas o cancelamento da entrevista comprovou suas más condições para o exercício de uma função física e psicologicamente exigente como a que acaba de assumir.

Bolsonaro em Davos

Arraia-miúda e 'rachid'



Nenhuma novidade nessa prática indecente, que só ganhou notoriedade nos últimos dias em razão do caso envolvendo um dos filhos do presidente

Notas & Informações | O Estado de S.Paulo
23 Janeiro 2019


Editorial

Faz nada menos que 16 anos, ou 4 legislaturas, que deputados estaduais em pelo menos 16 Estados são ou foram investigados por suspeitas de desviar salários e benefícios de servidores das Assembleias Legislativas, conforme mostrou reportagem recente do Estado. A prática é tão corriqueira que é até conhecida nesse meio por “rachid”, em alusão ao fato de que os funcionários “racham” seu salário com os parlamentares que os empregam.

Ou seja, não há nenhuma novidade nesse expediente indecente, que só ganhou notoriedade nos últimos dias em razão do caso envolvendo um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o ex-deputado estadual do Rio de Janeiro e senador eleito Flávio Bolsonaro. Assim, a chegada ao poder de legítimos representantes do baixo clero, como a família Bolsonaro e seus apoiadores, está permitindo aos brasileiros conhecer em detalhes o mundo todo peculiar da arraia-miúda política, que antes operava suas bagatelas sem atrair as atenções.

Só no caso da Assembleia do Rio há procedimentos criminais abertos desde o ano passado para apurar suspeitas de irregularidades envolvendo os gabinetes de 22 dos 70 deputados. Um desses inquéritos diz respeito a Fabrício Queiroz, um modesto ex-assessor de Flávio Bolsonaro, cuja milionária movimentação bancária foi considerada “atípica” pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Fossem outros tempos, muito provavelmente essas suspeitas seriam relegadas ao rodapé do noticiário, por sua tediosa recorrência e por seu limitado alcance. Contudo, alguns dos personagens envolvidos no caso – a começar pela prole do presidente da República – estão hoje no primeiro plano da política nacional, e elegeram-se prometendo moralizar a vida política do País, razão pela qual são pressionados a dar explicações. E até agora essas explicações, em vez de esclarecer qualquer coisa, têm servido mais para confirmar que nos gabinetes de muitos deputados estaduais, entre um projeto de lei e outro, realiza-se todo tipo de rolo.

Fabrício Queiroz, por exemplo, disse ser “um cara de negócios” e que o dinheiro que passou por sua conta – pelo menos R$ 1,2 milhão, mas há informações de que esse valor pode chegar a R$ 7 milhões – diz respeito à compra e venda de carros usados – o próprio presidente Jair Bolsonaro qualificou de “rolo” a suposta atividade comercial de Queiroz. Já o ex-deputado e agora senador Flávio Bolsonaro argumenta que os quase R$ 100 mil depositados em sua conta em dinheiro vivo, de maneira fracionada, no caixa eletrônico da Assembleia do Rio, resultaram da venda de um de seus imóveis, em circunstâncias ainda obscuras.

De um modo geral, a criatividade tem sido uma marca dos arranjos de parlamentares nos Legislativos federal, estaduais e municipais. Para aumentar sua renda à custa das verbas de gabinete, vale tudo. Segundo as investigações, um deputado estadual da Paraíba, por exemplo, contratou a própria empregada doméstica como funcionária fantasma, retendo todo o salário dela entre 2003 e 2009.
Num caso semelhante, e mal explicado durante a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro, quando ainda era deputado federal, manteve como assessora uma funcionária que na verdade trabalhava em uma barraca de açaí em Angra dos Reis (RJ), a quase 900 km do gabinete onde tinha que dar expediente oito horas por dia.

O baixo clero já legou ao País momentos constrangedores, como a eleição do obscuro Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados, em 2005. À vontade, o deputado cobrou do então presidente Lula a indicação de um afilhado para a “diretoria que fura poço” na Petrobrás. Cavalcanti renunciou ao mandato ao ser acusado de cobrar propina do restaurante da Câmara – o que bem caracteriza os parlamentares que não representam nada além de si mesmos.

Agora, depois de alcançar retumbante vitória eleitoral, especialmente graças à desmoralização generalizada da política, o baixo clero não precisou nem de duas semanas de poder para confirmar sua natureza caricatural e medíocre.

Os rolos da arraia-miúda

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Independence Day




"Firework" (Katy Perry)

Após indicar amigo, presidente deleta tuíte que dizia: 'era do indicado acabou'




Em 2016, o presidente havia se referido ao escolhido para cargo na Petrobrás como 'amigo particular'

 

 





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Foto: Twitter/Reprodução






Ao divulgar a indicação de um "amigo particular" para a gerência executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobrás, o presidente Jair Bolsonaro publicou uma mensagem no Twitter afirmando que a "a era do indicado sem capacitação técnica acabou". A publicação, no entanto, foi apagada e trocada por outra sem esse trecho.
"A era do indicado sem capacitação técnica acabou, mesmo que muitos não gostem. Estamos no caminho certo!", escreveu Bolsonaro em post publicado às 23h16 de quinta-feira, 10, com uma descrição do currículo do indicado. Em 2016, o presidente havia se referido ao escolhido como "amigo particular".

* * *

Após apagar a mensagem, outra foi publicada às 23h59 com um novo texto: "A seguir o currículo do novo Gerente Executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, mesmo que muitos não gostem, estamos no caminho certo!".


Daniel Weterman
O Estado de S.Paulo (11/1/19)


Priscilla





I Can't Help Falling In Love (Elvis "THE KING" Presley)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Paráfrase



Pensando alto


Já parou pra pensar nas maneiras misteriosas como as pessoas se apaixonam? Às vezes basta um leve roçar de mãos. Podemos ter encontrado o amor bem onde nós estamos. Porém, continuamos cometendo os mesmos erros. Será que isso faz parte de um Plano?
Um dia meu cabelo vai cair, minha memória falhar e o mundo não mais se lembrará do meu nome. Mas seu sorriso ainda estará em minha mente. Eu a amarei até muito depois dos 70 anos e sei que, quando minhas mãos não tocarem mais as suas do mesmo jeito, você me amará da mesma forma.
Quando suas pernas não funcionarem como antes, e eu não puder pegá-la no colo, sua boca ainda se lembrará do gosto do meu amor. Nesse instante suas bochechas vão corar e fazer seus olhos sorrir. Estou apaixonado por você e me apaixono mais a cada dia, e tão intensamente como fora aos 23.
Sim, acredito que tudo isso faça parte de um Plano. Portanto, dê-me um abraço amoroso e um beijo sob o testemunho de mil estrelas. Mas estou pensando alto, minha querida! Apenas repouse a cabeça no meu colo e sinta o meu coração acelerado. Talvez tenhamos encontrado o amor bem onde nós estamos.


Adaptação de "Thinking out loud", pelo autor do blogue.
Clique AQUI para acessar o texto original e AQUI para assistir ao clipe.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Mundos

 

"Seja gentil! Com a vizinha que vive de cara fechada, com o senhor antipático, com o amigo mal humorado, com a pessoa que não ri, com qualquer um. Cada pessoa é um mundo, e você não sabe se o de alguém está enfrentando uma guerra."



(Edvan Santos)

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O manual da Santa Inquisição



Clique AQUI para baixar "O martelo das feiticeiras" em PDF.


O Martelo das Feiticeiras (Malleus Maleficarum) é um dos livros mais importantes da cultura ocidental, tanto para os leitores que se interessam pela história quanto para aqueles que estudam a história do pensamento e das leis. Documento fundamental do pensamento pré-cartesiano, bem como um dos mais importantes depositórios das leis que vigoravam no Estado teocrático, revela as articulações concretas entre sexualidade e poder, e por isso é uma peça única para todos aqueles que estudam a profundidade da psique humana e o funcionamento das sociedades. Durante quatro séculos este livro foi o manual oficial da Inquisição para caça às bruxas. Levou à tortura e à morte mais de 100 mil mulheres sob o pretexto, entre outros, de “copularem com o demônio”. Esse genocídio foi perpetrado na época em que formavam as sociedades modernas europeias. Uma das consequências, apontadas pelos especialistas, foi tornar dóceis e submissos os corpos das mulheres posteriormente.



Sobre os autores:

Heinrich Kramer (1430-1505), religioso e Inquisidor alemão.
Juntou-se  à Ordem dos Pregadores ainda jovem, e foi indicado para a posição de inquisidor por  volta de 1474. Solicitou ao papa Inocêncio VIII permissão para investigar e punir atos de bruxaria na Alemanha, e a Bula Papal emitida em resposta serviu como legitimação para que ele escrevesse "Malleus Maleficarum" ("O martelo das feiticeiras"). Entendido como um guia para reconhecer, capturar e punir bruxas, o livro foi condenado pela Universidade de Colônia, instituição para a qual foi submetido para  aprovação, por instigar atos antiéticos, ilegais e contrários à doutrina católica. Ainda assim, o livro foi muito utilizado pelas cortes seculares, e Kramer continuou sendo convidado para fazer pregações sobre o assunto.

James  Sprenger (1435-1495), Inquisidor das províncias de Mainz, Trier e Colônia.
Mestre e deão da faculdade de teologia da Universidade de Colônia, iniciou-se na Ordem dos Pregadores em 1452. Apesar de ser com  frequência apontado como coautor de "O martelo  das feiticeiras", historiadores afirmam que seu papel foi o de colaborador, e que sua influência foi  usada  para  atribuir caráter oficial à publicação de Kramer.


Obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Calvin



By B. Watterson

 

domingo, 6 de janeiro de 2019

Reflexos

"Vemos as coisas como nós somos,

não como elas são."


(Anaïs Nin)

Charge




By Quinho
Jornal "Estado de Minas"

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Fortuna, cartunista dos cartunistas

Resultado de imagem para fortuna cartunista

 

O poeta e romancista argentino Jorge Luis Borges dizia que o escritor publica um livro para livrar-se dele. Quando reli isso, lembrei do Fortuna.

Fortuna era exatamente o contrário. Não queria se livrar de suas criações. Extremamente metódico e detalhista, passava horas e horas, às vezes, dias e dias, fazendo e refazendo um único texto ou desenho.

Não tinha pressa nenhuma de livrar-se deles. E eles não pareciam o incomodar. Divertia-se modificando um parágrafo, uma frase de um texto; o nariz, a boca ou outro detalhe qualquer que achava que não estava perfeito em seus desenhos.

Por isso sua produção de 45 anos de trabalho é relativamente pequena. Apesar de escrever muito bem, aliás, ele tem pouquíssimos textos publicados.

Pessoalmente, conheci pouco For- tuna. Mas conheço grande parte de sua obra. Ou aquela parte da qual ele “livrou-se”.

Reginaldo José de Azevedo Fortuna nasceu em São Luís do Maranhão, em 1931. Aos 16 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira publicando trabalhos nas revistas infantis como ‘Sesinho’, ‘Vida Infantil’, ‘Vida Juvenil’ e ‘Tico-Tico’.

Em 1959, foi trabalhar na revista ‘Senhor’, onde conheceu o cartunista Jaguar. Na década de 1960 ele passou a editar, junto com Ziraldo, a seção de humor ‘O Centavo’, publicada na revista ‘O Cruzeiro’, então a mais importante do país.

Em 1964, vai trabalhar como diretor de arte na revista ‘Pif-Paf ’, dirigida por Millôr Fernandes. Em 1969, junto com Tarso de Castro, Jaguar, Sérgio Cabral, Ziraldo e Henfil, entre outros, fez parte da equipe que criou o semanário ‘O Pasquim’.

Em 1975, edita pela Codecri a revista ‘O Bicho’ e muda-se para São Paulo, onde, dois anos depois, inicia uma parceria com Tarso de Castro no suplemento ‘Folhetim’, publicado pelo jornal ‘Folha de São Paulo’. A parceria se estende ao semanário ‘Enfim’ (1979) e à revista ‘Careta’ (1980).

Como escritor, publica os livros ‘Hay Gobierno!’ (1964); ‘Aberto para Balanço’ (1980); ‘Diz, Logotipo’ (1990); e ‘Acho Tudo Muito Estranho’, em 1992.

Millôr Fernandes dizia que o grande mal do Fortuna é que todo mundo o levava a sério. Nunca foi tratado com a hilaridade que seria o caso.

Seu nome é uma ironia. Nunca ganhou o quanto merecia. Começou desenhando sob o pseudônimo de Ricardo Forte. Outra ironia. Passou a assinar Fortuna por sugestão do Millôr.
Morreu em 5 de setembro de 1994, em São Paulo.

By Ediel (Cartunista e escritor)
O Dia


Retórica da posse


Editorial

Retórica da posse

 Sobre discurso ideológico de Bolsonaro em Brasília

 

Como o petista Luiz Inácio Lula da Silva, sua nêmesis, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se pretende uma ruptura. Verdade que Lula, mais megalômano, se apresentava como uma guinada na história nacional de cinco séculos. Bolsonaro, empossado nesta terça (1º), anuncia uma reviravolta na democracia das últimas três décadas.

Populista, a exemplo do rival, o novo mandatário precisa de vilões a combater, reais ou imaginários. Ao discursar, transformou um ataque tresloucado durante a campanha em uma conspiração derrotada de forma épica. “Quando os inimigos da pátria e da ordem tentaram pôr fim à minha vida, milhões de pessoas foram às ruas.”

Os pronunciamentos —primeiro ao Congresso, depois ao público aglomerado em frente ao Planalto— apelaram ao embate ideológico e, infelizmente, pouco ou nada adiantaram da agenda de governo.

Bolsonaro, de fato, é uma novidade na história recente: um líder popular de retórica abertamente conservadora, que fala em Deus a todo momento, promete valorizar a família e combater a agenda de gênero. “O povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto.”

Além da pauta assim chamada progressista, ataca de modo genérico a desordem econômica produzida nos anos de gestões socialdemocratas, o avanço da criminalidade e a corrupção associada ao loteamento político do Executivo.

Não deixa de ser uma maneira eficaz de capitalizar insatisfações gerais com vícios da administração pública nacional —a propensão ao gasto além das possibilidades, a baixa qualidade dos serviços de Estado e a dificuldade de formar coalizões em meio à proliferação de partidos fisiológicos.
O que não se sabe é como as bandeiras serão convertidas em políticas de governo. De forma consciente ou não, Bolsonaro alimenta a ilusão perigosa de que a redenção depende somente de destronar esquerdistas ou velhos políticos.

Entretanto os petistas foram apeados do Planalto há mais de dois anos; Lula está preso e inelegível. A política econômica já tem buscado o equilíbrio orçamentário e a redução do intervencionismo estatal, contra ferozes resistências; a política externa já se distanciou da Venezuela e do antiamericanismo.
Nem existem os poderosos inimigos da retórica presidencial, nem faz sentido algum tipo de ruptura. Há diagnósticos consistentes das mazelas nacionais e propostas em discussão avançada ou postas em prática no aparelho do Estado.

O sucesso do novo governo dependerá da boa convivência democrática —em particular com o Congresso, como Bolsonaro demonstrou reconhecer na posse. Que o mandatário saiba, com realismo, promover a prometida renovação dos acordos políticos em busca das reformas de fato prioritárias.

Folha de S.Paulo (

Novo Chefe do Executivo quer construir sociedade 'sem discriminação'

Jair Bolsonaro prometeu “restaurar e reerguer a Pátria” e pediu a ajuda dos parlamentares. Mais tarde, no parlatório do Palácio do Planalto, se dirigiu à multidão anunciando que aquele era o dia “em que o povo começou a se libertar do socialismo”. “Eu, vocês e nossas famílias restabeleceremos padrões éticos e morais”, disse, para uma plateia que respondeu aos gritos de “Mito, mito!”.




 


 “Nos pautaremos pela vontade soberana dos brasileiros que querem boas escolas capazes de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para militância política, que sonham com a liberdade de ir e vir sem ser vitimados pelo crime”

MICHELLE QUEBRA O PROTOCOLO



Após a cerimônia no Congresso, Bolsonaro subiu a rampa do Palácio do Planalto, ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão, ambos acompanhados das mulheres. Após ter recebido, por volta de 17h, a faixa presidencial de Michel Temer, que logo saiu de cena, o presidente falaria, no parlatório, diante da multidão. Em quebra de protocolo, no entanto, a fala de Bolsonaro foi precedida de um discurso da primeira-dama, Michelle. Natural de Ceilândia (DF), ela, muito à vontade, usou a linguagem brasileira de sinais (libras), sendo traduzida por uma intérprete. Michele agradeceu a solidariedade da população ao marido após o atentado em Juiz de Fora (MG), destacando o apoio do enteado, Carlos. Atendendo a pedidos da plateia, beijou Bolsonaro, a quem chamou de “amado esposo”, duas vezes.

Em sua vez, Bolsonaro, após pedir licença a seu vice, o general Hamilton Mourão, fez um discurso mais voltado para o seu eleitorado, enquanto a plateia gritava: “O capitão chegou”. “Não podemos deixar que ideologias nefastas venha a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições”. Além do “socialismo, o presidente disse que o povo começava a se libertar “da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”. No fim do discurso, Bolsonaro segurou uma bandeira do Brasil, junto com Mourão, e disse: “Eis a nossa bandeira que nunca será vermelha. Se for preciso (daremos) o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”.

O Dia, 2/1/19