ELIO GASPARI
Hoje, in: "O Globo"
Franz pilotava um caça Bf-109, protegendo o Norte da Alemanha, quando
alcançou um B-17 de uma esquadrilha que bombardeara a região de Bremen.
O avião americano estava em pandarecos. Ele podia ver tripulantes
feridos e rombos na fuselagem. Tirou o dedo do gatilho e emparelhou seu
caça com o bombardeiro.
Aquele avião não podia estar voando. Charlie Brown, o piloto do B-17, esperava
apenas pelos últimos tiros. Viu o piloto alemão movendo a cabeça num
incompreensível sinal afirmativo e achou que estivesse sonhando. Franz
escoltou o B-17 durante dez minutos. Quando ele se aproximou da costa da
Inglaterra, balançou as asas e voltou para a base alemã: “Não se atira
em paraquedista. O avião estava fora de combate. Eu não carregaria isso
na consciência”.
Charlie contou aos seus superiores o que lhe
acontecera, mas mandaram-no ficar calado, pois propagaria um episódio
capaz de comover os colegas com a ideia de que havia alemães
civilizados.
Franz sobreviveu à guerra, mudou-se para o Canadá e
só contou sua história em 1985. Não sabia o que acontecera ao B-17. De
12 mil bombardeiros, cinco mil haviam sido destruídos em combate. Na
outra ponta, Charlie Brown, que vivia na Flórida, sonhava encontrar
aquele alemão.
Escreveu uma carta para uma revista, descrevendo o
estado de seu avião, com o cuidado de omitir um importante detalhe. Em
1990, os dois se encontraram. Franz tinha 75 anos e Charlie, 68. O
alemão lembrou-lhe que o B-47 estava com o estabilizador destruído. Era o
detalhe omitido.
Pouco depois, todos os sobreviventes do B-17 se
reuniram, levando suas famílias. Eram 25 homens e crianças que deviam a
vida a um homem que não apertou o gatilho.
Franz morreu em março de 2008. Charlie, em novembro.
Serviço: Essa história está contada no livro “A Higher call”, de Adam Makos. Custa US$ 9,99, na rede, e vai virar filme.
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