A edição de 29 de outubro antecipada por "Veja" traz como verdade absoluta a denúncia de um criminoso confesso, o doleiro Alberto Youssef:
ELES SABIAM DE TUDO afirma a capa, sem aspas, ilustrada pela imagem de Lula e Dilma.
No interior da revista, porém, o leitor se depara com a informação de que o doleiro ("caixa do esquema de corrupção da Petrobras") não apresentou nem lhe foi pedido nenhuma prova. Uma tentativa desesperada para influenciar o resultado das eleições de hoje, exatamente como fez a Rede Globo ao editar o debate entre Collor e Lula às vésperas das eleições presidenciais em 1989.
O que Youssef disse não poderia mesmo ficar escondido até o fechamento das urnas. Mas daí a alçar a notícia ao status que lhe foi dado, e ainda induzir o (e) leitor a erro? Os editores chamaram para si a responsabilidade ao assumirem a acusação, cabendo-lhes o ônus da prova.
A depredação da sede da editora Abril foi lamentável, mas qual teria sido o maior atentado à democracia? Se o depoimento fosse favorável a Dilma e a Lula a revista abraçaria a versão do delator com o mesmo açodamento e dar-lhe-ia a mesma credibilidade e igual publicidade? Obviamente, caso o delator dissesse que o alto escalão do governo não soubesse do esquema não haveria manchete na capa — muito menos ela seria ELES SÃO INOCENTES.
Pedra angular do Direito, o contraditório também é um princípio do jornalismo, e aos acusados deveria ser dado o direito de se defenderem, o que não foi respeitado pela publicação. Pelo contrário, a empresa recorreu ao STF para barrar o direito de resposta determinado judicialmente.
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Quem veio em defesa da revista, claro, foi Aécio. Notório censor, agora se traveste de arauto da liberdade de imprensa, com o mesmo cinismo de quando ataca a adversária de forma baixa e agressiva afirmando que não o fará.
O País de fato precisa de mudança, que nenhum dos candidatos representa. Mas, a julgar pela capa e pelo uso eleitoreiro pelo noticiário ("golpe contra a liberdade de imprensa" etc.), se Aécio for vitorioso a imprensa deverá ser menos vigilante e combativa — para não dizer complacente — em seu governo.
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