Não havia nada que a professora Shari Wilson desejasse mais do que uma noite selvagem com o vizinho do andar de baixo, o jornalista Luke Lawson...
Shari Wilson queria dar um beijo no carteiro
atrapalhado que entregava diariamente a correspondência no antigo edifício de
um bairro de Seattle, onde ela morava. Ele havia confundido pacotes mais uma
vez.
Entre as cartas endereçadas a ela, do apartamento
325, havia um envelope pardo para "L. Lawson", do apartamento 235. Agora, Shari
tinha uma nova desculpa para ver o gatão do Luke Lawson. Abraçou a encomenda,
como uma adolescente apaixonada.
Bem, na verdade, era uma professora apaixonada. O
vizinho do andar de baixo a fazia estremecer. Devia ser aquela combinação
infalível do sorriso irresistível com o corpo escultural e os olhos verdes
brilhantes e langorosos que a deixavam sem fôlego.
Havia muitos meses que o carteiro confundia os
números de seus apartamentos e entregava-lhe correspondência de Luke. Em todas
as vezes, percebera que as cartas, sem exceção, eram endereçadas apenas a ele.
Também não notou qualquer sinal de mulher nas ocasiões em que tinha ido ao
apartamento dele entregar as cartas. Parecia lógico deduzir que o rapaz era
solteiro.
Da mesma forma que ela.
Só de pensar em revê-lo, Shari sentiu um calorão
passar pelo corpo. O destino, personificado na figura do carteiro, os havia
unido repetidas vezes e a atração física fora imediata e mútua, pensou. Nas
últimas vezes, Luke a recebera na porta cheio de entusiasmo e com um olhar tão
sedutor e penetrante que dava a impressão de que os dois tinham acabado de fazer
amor. Ah, o poder que aqueles olhos exerciam sobre uma mulher!
Então, por que, apesar dos olhares provocadores
que trocavam nas rápidas e esporádicas visitas, Luke nunca tentava algo mais
ousado? Ou fazia alguma tentativa para conhecê-la melhor?
Shari mordeu os lábios, ao passar direto pelo
elevador e subir as escadas até o apartamento dele. Será que ele era tímido ou
estava inseguro quanto aos sentimentos dela ou suspeitava que ela não fosse
solteira?
Talvez fosse o momento de tomar a iniciativa e acabar
com qualquer dúvida que pudesse existir. Tinha que deixar claro que estava
completamente desimpedida e caidinha por ele.
A única forma de tirar aquela história a limpo
seria convidando Luke para sair. Nada muito íntimo, um cineminha e depois uma
pizza ou algo do gênero. Apenas um encontro sem compromisso para que se
conhecessem melhor.
Ela iria até a casa dele como quem não quer nada,
só para entregar o envelope extraviado. Aproveitaria e diria: "Então,
estou indo comer alguma coisa na rua, quer me fazer companhia?"
* * *
Era isso mesmo que ira fazer! Algo bem casual. Se
Luke recusasse o convite, pelo menos, ela saberia onde estava pisando e
acabaria de vez com as fantasias adolescentes que a consumiam fazia tempo. Bem,
as fantasias, na verdade, não tinham nada de adolescentes ou inocentes.
Suspirou fundo e decidiu levar seu plano adiante.
Responderia à altura as mensagens eróticas que ele lhe enviara com os olhos até
agora. Iria convidá-lo para sair.
E seria naquele dia à noite.
Uma olhada de relance no espelho a lembrou de que
dar aulas para um bando de alunos do ensino médio não era bem uma atividade
relaxante. Não poderia ir a lugar nenhum sem antes tomar uma chuveirada.
Depois de se secar, escovou os dentes, penteou os
cabelos e aplicou uma leve maquiagem no rosto. Vestiu um jeans, mas mudou de
idéia. Estava cansada de só usar jeans.
Uma saia sensual e elegante saiu de dentro do
armário direto para os seus braços. Adicionou uma blusa tomara-que-caia lilás
ao conjunto, brincos descontraídos, sandálias rasteiras e pronto. Não queria
que ele pensasse que tinha se arrumado para a ocasião. Não queria que
percebesse o óbvio.
Apanhou o envelope e já estava de saída quando viu
uma mancha na saia. Voltou ao banheiro. Deixou o envelope na beirada da pia
e... droga! Por causa da pressa, o sabonete acabou caindo no chão. Agachada,
achou o bendito sabonete e se levantou. E perdeu o ar. Ao subir, deixou o
envelope pardo cair na pia, molhando parte do pacote, mas não o suficiente para
danificar o conteúdo. Parecia um livro.
Era melhor ir rapidamente ao apartamento de Luke e
entregar a encomenda antes que a água encharcasse a parte de dentro. Limparia a
saia depois.
Apanhou as chaves, a jaqueta de couro, o embrulho
afogado e desceu correndo as escadas para o andar de baixo.
Em um minuto, estava em frente à porta dele,
ofegante. Respirou fundo, memorizou o convite que iria fazer e bateu na porta.
Silêncio.
Não lhe havia passado pela cabeça que Luke pudesse
não estar em casa. Sabia pelas conversas breves que era jornalista. Já havia
inclusive lido uma reportagem dele no jornal local. Foi apenas cogitar a
possibilidade de que ele não estava para ouvir o barulho do trinco da porta se
abrindo.
E então surgiu Luke Lawson, com seu olhar erótico
e irresistível, como sempre. Ele era, sem dúvida, o homem mais sexy que já
havia visto. Não importava quantas vezes o visse, aquela expressão facial
sempre a deixava com as pernas bambas. E era o que acontecia naquele instante.
O coração estava disparado, bombeando sangue para todas as zonas erógenas,
possíveis e imagináveis do corpo de Shari.
Não era apenas o olhar magnético dele, insinuando
intimidades que nunca haviam compartilhado, mas que poderiam, facilmente, ter.
Também não era só a covinha no queixo ou o cabelo preto despenteado que a faziam
se lembrar das manhãs de sábado preguiçosas. Era, concluiu, a forma tão
perfeita como todos aqueles elementos se combinavam.
Os lábios dele formaram um lindo sorriso ao vê-la
com o pacote na mão.
— Não vai me dizer que ele errou outra vez? — Não
parecia irritado com a constatação, mas sim exultante.
Shari tentou conter o risinho ao entregar o
envelope.
— Pois é, outra vez.
Ela sabia que tinha algo a dizer, mas o quê? Tudo
o que havia planejado e memorizado se esfumaçara na memória. Apenas o olhava
fascinada.
Luke a observou dos pés a cabeça, fazendo-a se
sentir nua.
— Nossa, você está demais. Vai a algum lugar
especial? Ah, era isso. Voltou a raciocinar. Ia convidá-lo para sair.
— Não, nada especial. Na verdade...
Não conseguiu ir adiante. O som de papel molhado
rasgando-se, seguido de algo caindo no chão, a interrompeu.
O livro havia caído pela extremidade do envelope.
A capa dura, virada para cima. O título, com letras garrafais em néon, poderia
ser lido a metros de distância: Sexo para idiotas completos — um guia
prático.
* * *
Não podia acreditar no que viam seus olhos. Suas
bochechas logo ficaram vermelhas. Não podia ser verdade. Se Luke encomendava um
livro daquele gênero, então... significava que... não!
Voltou a olhar o título tentando se convencer de
que, na verdade, o que havia lido tinha sido Guia para trabalhos em madeira —faça
você mesmo ou Estratégias financeiras para iniciantes. Porém, as
palavras permaneciam inalteradas. Era realmente um guia prático para homens que
não tinham idéia do que era sexo. Pelo menos, na prática.
Que decepção! Totalmente constrangida, não sabia
se pela situação ou por ele, o fato era que estava vermelha como um pimentão.
Depois de alguns minutos, que mais pareceram horas
intermináveis, Shari tomou coragem e o encarou. Ele segurava o envelope, meio
sem jeito, as bochechas levemente coradas.
— Me desculpa — falou em seguida. — A culpa foi
minha... deixei o envelope cair na pia. Esqueci de avisar... estava lavando a
louça e deixei cair... — Ai, era ela que agora falava como uma idiota completa.
Pressionou os lábios para que parasse de gaguejar.
— Acho que... — Luke pigarreou encabulado. — Que
se disser que encomendei esse livro para um amigo você não vai acreditar, não
é?
— Mas a encomenda está no seu nome — respondeu
ela, sentindo-se péssima um segundo depois de ter feito a observação.
Ele suspirou.
— É verdade.
O desconforto aumentou ainda mais entre ela, ali,
de pé no corredor do edifício e Luke, parado na porta. Ela estava mesmo
decepcionada. Apenas não entendia por quê, já que mal o conhecia e muito menos
sabia se algum dia rolaria algo entre os dois. Bem, pelo menos, houvera até o
momento uma ponta de esperança alimentada por ambos.
Será que tinha deixado a imaginação subir-lhe à
cabeça? Em suas fantasias, ele era um garanhão experiente e sensual.
Características improváveis para um homem que precisava de um guia sobre sexo.
Queria sair correndo dali e esquecer o incidente.
— Bem — forçou um sorriso. — Está na minha hora. —
Cruzou os braços, mordeu os lábios e torceu para que tivesse soado convincente.
— Claro. Obrigado pela... encomenda.
— Imagina! — Deu um aceno tímido e se virou de
imediato, rumo às escadas.
Luke ficou olhando a vizinha sexy correndo para as
escadas e ficou se perguntando como teria terminado aquele dia se o livro não
tivesse caído no chão, no momento mais inoportuno — e com o título virado para
cima.
Balançou a cabeça, ainda desnorteado com as
peripécias do destino e do serviço dos correios, e fechou a porta. Estudou o
livro em sua mão, olhando o título chamativo e demasiadamente óbvio: Sexo
para idiotas completos: um guia prático, por Lance Flagstaff.
— Lance, compadre, não podia ter escolhido uma
hora melhor?
Ficou olhando para o envelope molhado e destruído.
Se tivesse esperado alguns minutos mais para arrebentar...
* * *
Seu instinto masculino lhe dizia que teria tido um
programa para a noite se Lance não tivesse resolvido aparecer de repente.
Droga! O último artigo para a revista masculina já
estava pronto e, surpreendentemente, não havia nenhum trabalho por fazer.
Adoraria poder dar uma saída naquela noite e a única pessoa que tinha em mente
como companhia era a vizinha do andar de cima. Shari Wilson, apartamento 325 — uma
recompensa que cairia como uma luva depois de uma maratona de artigos para os
principais veículos da cidade.
Luke grunhiu de frustração ao se dar conta de que
o encontro tão esperado com Shari não aconteceria tão cedo. Graças ao Lance.
Havia alguns lugares para ir naquela noite, mas
não estava animado. Foi até a cozinha e abriu a geladeira. Apanhou uma cerveja
e voltou para o sofá, a fim de folhear seu novo livro.
— Capítulo um. "A primeira impressão". —
Luke deu uma risada irônica, lembrando-se da expressão no rosto de Shari ao ler
o título do livro. Ele havia causado uma impressão da qual ela se lembraria
para sempre. Infelizmente, não era aquilo que gostaria.que tivesse acontecido.
Por certo, não queria ser vista com um cara que
precisa de uma manual para satisfazer uma garota na cama.
Por que não havia contado a verdade?
Eu escrevi o maldito
livro.
Trecho de "Manual da conquista"
by Nancy Warren
by Nancy Warren
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