ELE
CONQUISTOU FAMA E MUITOS MILHÕES DE DÓLARES utilizando informações
privilegiadas e se especializando em salvar o couro de
colarinhos-branco, notadamente os do Distrito Federal. O perfil do
criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, vulgo "Kakay", foi o
destaque da revista Piauí de novembro, cuja capa remete a usurários e
publicanos da Idade Média.
Ele é membro de família tradicional de
Patos de Minas e sobrinho do glorioso Altino Caixeta de Castro. A mídia
local não repercutiu a notícia, enviada a este colunista por um leitor.
"O
entrevistado, inclusive, é meu parente, mas o que me chamou a atenção
foi a arrogância, e, aparentemente, os métodos nada ortodoxos do fulano
para 'se dar bem' na profissão. Como pode alguém se orgulhar de pessoas
como José Sarney, ACM etc. a ponto de ter quadros seus (deles)
pendurados na parede?"
O fato de os expedientes "nada ortodoxos"
citados pelo prezado leitor baterem de frente com o Estatuto da Ordem
não impede que o profissional seja promovido em publicações financiadas
pela instituição.
* * * *
Antônio Carlos
também está no centro do mais recente escândalo nacional: o suposto
envolvimento de seu cliente, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), na
rede de jogos ilícitos investigada pela Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal.
“O caso, juridicamente, é simples, esse inquérito não
tem como prosseguir”, declarou na semana passada, dois dias antes de o
parlamentar renunciar à sigla e evitar sua expulsão do partido. “Há que
se investigar o Ministério Público que durante três anos o gravou
ilegalmente e há que se investigar por que o juiz determinou que ele
fosse gravado durante três anos.”
A inconstitucionalidade dos
grampos telefônicos por longos períodos foi tópico de palestra
ministrada por Antônio Carlos a estudantes do curso de direito do
Unipam, em 2010 (
“O advogado criminal no Estado de Direito”),
quando discorreu mais sobre os telefonemas que recebe de chefes e
ministros de Estado, dentre outras autoridades, do que propriamente
sobre escutas clandestinas.
Talentoso, imoral e exibicionista,
Antônio Carlos se gaba de pagar quarenta mil reais em um único jantar e
de ter roupa de cama personalizada com suas iniciais no Emiliano,
referência em “hospitalidade de luxo". Todas as suas causas têm origem
em sua rede de influência.
Abaixo, trechos da reportagem de Daniela Pinheiro.
*
Ao longo dos anos, de fato, Kakay desenvolveu um acurado canal de
comunicação com a mídia. Fala com colunistas, repórteres, diretores de
redação e patrões, a quem municia com informações que interessam a eles e
a si próprio. Quando precisa se posicionar publicamente sobre um caso,
pede que o entrevistem ou que publiquem seus artigos, no que quase
sempre é atendido.
* Em três
semanas, Kakay publicara três artigos (na Folha, n’O Globo e n’O Estado
de S. Paulo), participara de quatro programas de televisão, falara no
Jornal Nacional, aparecera na capa de um jornal da OAB.
*
Recentemente, Kakay comprou um cemitério em Belo Horizonte. Explicou
por quê: “É o melhor investimento para retorno imobiliário hoje. Você
compra em alqueire e vende a terra em palmos.” Um amigo arrisca que seu
patrimônio ultrapasse 100 milhões de reais.
*
Com uma porta de quase 7 metros de altura em madeira de demolição, e a
enorme escultura de um rinoceronte na entrada, a casa de Kakay tem 1 500
metros quadrados e três pavimentos. Uma vez, um amigo paulista que o
visitava ficou encantado com o clube que admirava da varanda. “Clube? É
meu quintal!”, respondeu Kakay. Quando a área, no Lago Sul, era um
terreno baldio, ele soube de antemão que o projeto de uma ponte vizinha
fora aprovado. Arrematou o terreno por uma pechincha.
*
Além da casa em Brasília, tem um apartamento de 400 metros quadrados de
frente para o mar, em Ipanema, outros imóveis e participação em várias
empresas. Dentre elas, há uma firma especializada na instalação de
lombadas eletrônicas e radares de trânsito – com contratos com o governo
federal – e a Divitex, responsável pela construção de um loteamento no
sítio do Pericumã, em Brasília. Seu sócio na empresa, José Sarney,
costumava passar ali os finais de semana.
*
No primeiro governo Lula, o banqueiro Daniel Dantas envolveu-se numa
briga de morte pelo naco mais lucrativo da telefonia, chegando a
contratar a empresa de espionagem Kroll. A certa altura, chamou Kakay. A
Polícia Federal fez uma batida no escritório do banqueiro e descobriu
uma nota fiscal de 8 milhões de reais, relativos aos honorários do
advogado. Outros dois advogados de Dantas no caso ganharam,
respectivamente, 1 milhão e 3 milhões de reais. Especulou-se que Kakay
encaminharia o excedente da remuneração que recebeu à cúpula do PT.
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