quarta-feira, 18 de junho de 2008

Prato atípico



Para marcar os 100 anos da imigração japonesa, celebrada hoje (data da chegada do navio Kasato Maru, transportando 165 famílias, após 2 meses de viagem) a Globo mostrou nos últimos dias uma série de reportagens sobre algumas peculiaridades culturais daquele povo. A utilização dos 5 sentidos na degustação das refeições, por exemplo, seria uma das razões para a longevidade dos japoneses, que vivem cerca de dez anos a mais que os brasileiros.

Ao preparar uma receita para o Jornal Hoje, a entrevistada de Sandra Annemberg esclarece que os hábitos alimentares no Japão são muito mais saudáveis porque os japoneses, além de se servirem uma única vez, "comem mais peixe do que carne".

De fato, cara-pálida, trata-se de um costume de difícil assimilação para nós, ocidentais. Será que os peixes nipônicos são considerados "frutos" do mar e sua parte comestível, polpa?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

"Sou um selvagem e não compreendo"









Cacique Seattle (1786-1866),
homem que inspirou o mais
famoso libelo ecológico



Cara-pálida, neste Dia Mundial do Meio Ambiente houvemos por bem reproduzir o texto com o qual o cacique Seattle teria declinado proposta indecorosa feita à sua tribo pelo governo americano. A versão a seguir é a que escrevemos, a partir das várias existentes, para o site da Caros Amigos por ocasião do 150° aniversário da suposta "carta".


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"O presidente declarou em Washington que deseja comprar nossa terra. Como pode comprar-se ou vender-se o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha para nós. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que, se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. Se nós a decidirmos aceitar, imporei uma condição: ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá também aos filhos da terra. Disto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem é que pertence à terra. Disto sabemos: todas as coisas então ligadas como o sangue que une uma família.

Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos das florestas densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.

Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.

Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. ...É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos (e o homem branco poderá vir a descobrir um dia): Deus é um Só, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual para o homem branco e para o homem vermelho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.”

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Como se fosse ontem


Alessandra Beber estava em Mogi das Cruzes vendo TV quando de repente toca a vinheta do plantão da Globo. “Ih, alguém morreu!”, foi o que pensou. Em São Paulo, Thomaz Magalhães havia trabalhado até altas horas e acorda com um telefonema de sua filha. A voz dela estava estranha. Assustado, o jornalista já foi perguntando o que era, onde ela estava. Estava tudo bem, tranqüilizou-o, mas era para o pai ligar a TV. Em outra parte da capital, a estudante Janaina Viegas seguia no ônibus que a levaria pra casa quando começou a passar a notícia no rádio e um monte de pirralhinhos da quarta série começou a dizer que o mundo ia acabar.

Longe dali, na cidade de Caguas (Porto Rico), Victor Vega ouve um programa de análise política (que seria extinto logo depois) quando o locutor anuncia: "Vamos a interrumpir este programa porque ha empezado LA TERCERA GUERRA MUNDIAL”. A oficina onde Victor trabalhava liberou os funcionários mais cedo para acompanharem de casa as notícias da guerra. Fernando Artmann chegou atrasado ao escritório, em Detroit (EUA), e ao dar "bom dia" a recepcionista respondeu com um "bom por quê?". Ali também ninguém trabalhou nesse dia. Todos correram pra frente dos aparelhos de TV, onde muitos permaneceriam por 14 horas seguidas, assistindo à mesma cena.

Exatamente uma semana antes, Shadrack Diego e seus amigos estavam conversando sobre a última aula de História, sobre todas as guerras que o mundo já passou e no final acabaram falando de política. Chegaram à conclusão que estava tudo muito parado e que logo logo poderia acontecer algo grandioso na história do mundo. “No outro dia eu e meus amigos nos reencontramos”, conta o estudante de Brasília (DF), “e ficamos de cara porque a nossa ‘previsão’, uma semana antes, tinha se tornado realidade”.

Outra aula de historia começaria para a estudante Bela Schor quando a professora entrou na sala contando a calamidade. As aulas foram canceladas. No dia seguinte o colégio estava cheio de carros de polícia. O colégio, situado no Recife (PE), é judeu.

A mineira Sofia Paz estava numa escola norte-americana, em Nova York, quando os professores foram chamados para uma reunião. Meia hora depois, voltaram e levaram todos os estudantes para o gym, onde horas depois ela e seus colegas, um a um, seriam apanhados pelos pais. Nenhum dos estudantes sabia o que estava acontecendo até os pais falarem com eles. Quando Sofia saiu da escola já era tarde. Atravessaram o parque para pegar a irmã. Devido às muitas barreiras impostas pelo estado de sítio, foram pra casa a pé. Muitos colegas só chegaram em casa depois de 7 da noite. Heron Trierveiler também estava na escola. Chegou em casa, em Pomerode (SC), e viu na TV prédios em chamas. Nas primeiras horas o número estimado de vítimas era 30 mil.
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Obedecendo ao telefonema da filha, Thomaz Magalhães ligou a TV e deu de cara com a cena de um avião atravessando um arranha-céu. Ficou acompanhando um tempo e saiu de casa. Na padaria, todos estavam perplexos. “Mas como era de se esperar, havia gente gostando, achando bom”, lamentou. Robson Faria, belo-horizontino hoje residente em Patos, estava no trabalho e quando chegou à sala do chefe (no caso, o próprio pai) a TV estava ligada. Logo que sentou para assistir, rolou a segunda colisão. “Foi ruim pelo número de pessoas que morreram, mas foi bom porque mexeu no ego dos norte-americanos”.

Em Porto Alegre, Jorge Schneider estava conectado ao Terra e ao mesmo tempo assistia à TV quando deram as primeiras chamadas. “Ninguém na internet ou na TV sabia o que estava acontecendo direito”, disse. “Por causa da neblina um avião teria colidido contra o WTC.” O carioca Luiz Carlos da Costa Pereira, porém, não conseguia acessar nenhum site por causa do congestionamento das linhas. Ligou para casa e seu irmão disse que aviões atacaram os prédios mais altos de Nova York. Luiz Carlos pensou: “Que país seria louco o suficiente para enviar CAÇAS para atacar os EUA?”.

Marcelo Peron estava na cantina da sua escola, em Garça (SP), comendo um pastelão de frango com catupiry da dona Sônia. Olhou pra TV e viu o avião estatelar-se contra a torre. Pensou que tinha sido acidente: “Como nego é cego, olha o tamanho do prédio e tem gente que ainda tromba”. Rod Ess e sua mãe ficaram pasmos com aquelas imagens. Mãe e filho olhavam um para o outro, e novamente para o 767 batendo no prédio. Ela é comissária e um dos aviões em que voa é justamente o 767. Ambos sabiam que não podia ser um acidente. Minutos depois, veio o segundo impacto.

A carioca Daniela Morais estava vendo TV com a irmã, em Londres. De repente, começa a passar esta legenda: "o WTC está sendo atacado. Mude para o canal X para ter mais notícias". Elas mudaram para a tal estação e em poucos segundos caiu a segunda torre. Daniela tinha que sair, mas a irmã tentou impedi-la, falando que podiam atacar Londres também, coisa e tal. Mas Daniela foi. No metrô, havia muitos policiais, mais do que o normal. Tinha telão mostrando os acontecimentos, um monte de gente parada, incrédula, e o policiamento dobrado olhando todos os lugares, buscando algo. “Caramba, parecia coisa de cinema!”

“Eu estava dormindo, minha mãe me acordou dizendo que estavam explodindo as torres gêmeas e eu perguntei se a guerra já tinha começado”, diz Fernanda Sonim, de Perdizes (SP). Outra que estava dormindo no momento do ataque era Juliana Blondie. Seu pai a acordou umas dez da manhã e disse: “Minha filha, atacaram o World Trade Center”. Ela respondeu “E eu com isso?” e voltou a dormir.