domingo, 11 de agosto de 2024

Apenas um bebezinho


Não é que eu não te amava,

é que eu esperava muito da juventude.

Mas amanhã eu serei um pai

de verdade.





"

Escute, filho. Eu estou dizendo isto enquanto você dorme, debruçado com a sua mãozinha debaixo do seu rosto e os cachinhos dourados molhados de suor e grudados em sua testa. Eu entrei no seu quarto sozinho. Há apenas alguns minutos, enquanto estava sentado na biblioteca lendo o meu jornal, fui invadido por uma onda de remorso sufocante. Sentindo-me culpado, vim para ficar ao lado de sua cama.

Eu estive pensando sobre algumas coisas, filho. Fiquei bravo com você. Eu te dei uma bronca enquanto você estava se vestindo para ir à escola, porque você não enxugou o rosto direito com a toalha. Briguei com você por não ter limpado os sapatos. Gritei com muita raiva quando você jogou algumas coisas no chão.

No café da manhã, também fiquei irritado. Você derramou algumas coisas. Você engoliu a sua comida. Você colocou os cotovelos sobre a mesa. Você colocou muita manteiga em seu pão. E quando você saiu para brincar e eu para pegar o meu trem, você virou para mim e acenou e disse, “Tchau, papai!”. E eu fechei a cara e respondi, “Endireite as suas costas!”.

Depois, tudo recomeçou no final da tarde. Enquanto eu subi à rua, vi você ajoelhado brincando com bolinhas de gude. Havia buracos em suas meias. Eu te humilhei na frente dos seus amiguinhos e te fiz entrar em casa antes de mim. “Meias são caras, e se você tivesse que comprá-las, você seria mais cuidadoso!”. Imagine isso, filho, vindo de um pai.

Você se lembra, mais tarde, quando eu estava lendo na biblioteca como você entrou timidamente com um olhar de mágoa em seus olhos? Quando olhei por cima do meu jornal, incomodado com a interrupção, você hesitou à porta. “O que você quer?", perguntei irritado.

Você não disse nada, mas correu e atirou-se ao redor de meu pescoço e beijou-me. E os seus pequenos braços apertavam com o afeto que Deus havia colocado em seu coração e que nem a negligência poderia apagar. Então você sumiu, subindo os degraus da escada.

Bem, filho, foi logo depois que o jornal escapou das minhas mãos e um medo terrível tomou conta de mim. O que o hábito estava fazendo comigo? O hábito de encontrar falhas, de repreender. Esta foi a minha recompensa a você por ser menino. Não é que eu não te amava, é que eu esperava muito da juventude. Eu estava te medindo com a mesma medida com que fui medido na minha vida. 

E havia tanta beleza, bondade e verdade em seu caráter! O seu pequeno coração era tão grande quanto o sol amanhecendo por sobre as colinas extensas. Você demonstrou isso pelo seu impulso espontâneo de entrar correndo e me dar um beijo de boa noite. Nada mais importa hoje à noite, filho. Eu vim ao lado de sua cama no escuro e me ajoelhei aqui, envergonhado.

É uma tentativa um tanto inútil de arrependimento. Eu sei que você não compreenderia essas coisas se eu te contasse enquanto você estivesse acordado. Mas amanhã eu serei um pai de verdade. Serei o seu amigo. Sofrerei quando estiver sofrendo. Darei risada quando você rir. Morderei a minha língua quando vierem as palavras de impaciência. Continuarei a repetir as palavras como um ritual. “Ele é apenas um menino, um menininho”.

Infelizmente, eu te vi como homem. Mas, filho, agora quando te vejo debruçado e cansado em seu berço, eu entendo que você ainda é um bebê. Ontem você estava nos braços de sua mãe, a cabeça em seu ombro. Eu fui muito, mas muito exigente.


By W. Livingston Larned
In: The father forget ("O pai esquece")



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