quinta-feira, 5 de maio de 2011

Obrigado, Paulo Coelho

Trechos do artigo "Obrigado, presidente Bush", de Paulo Coelho, publicado em 2003 na Folha Online (8/3) e no "Le Monde" (17/3) às vésperas da invasão do Iraque, em 20 de março:

"Obrigado, grande líder George W. Bush.

O sr. foi capaz de mostrar muitas coisas importantes ao mundo, e por isso merece minha gratidão. Assim, recordando um poema que aprendi na infância, quero lhe dizer obrigado.

Obrigado por mostrar a todos que o povo turco e seu Parlamento não estão à venda, nem por 26 bilhões de dólares.

Por deixar claro que tanto José María Aznar como Tony Blair não têm nenhum respeito pelos votos que receberam.

Obrigado porque sua perseverança forçou Blair a ir ao Parlamento com um dossiê falsificado, escrito por um estudante há dez anos, e apresentar isso como 'provas contundentes recolhidas pelo serviço secreto britânico'.

Obrigado porque sua posição fez com que o ministro de Relações Exteriores da França, sr. Dominique de Villepin, em seu discurso contra a guerra, tivesse a honra de ser aplaudido no plenário, honra que, pelo que eu saiba, só tinha acontecido uma vez na história da ONU, por ocasião de um discurso de Nelson Mandela.

Obrigado porque, graças aos seus esforços pela guerra, pela primeira vez as nações árabes, geralmente divididas, foram unânimes em condenar uma invasão, durante encontro no Cairo.

Obrigado porque, graças à sua retórica afirmando que 'a ONU tem uma chance de mostrar sua relevância', mesmo países mais relutantes terminaram tomando posição contra um ataque.

Obrigado por ter conseguido o que poucos conseguiram neste século: unir milhões de pessoas, em todos os continentes, lutando pela mesma idéia, embora essa idéia seja oposta à sua.

Agora que os tambores da guerra parecem soar de maneira irreversível, quero fazer minhas as palavras de um antigo rei europeu a um invasor: 'Que sua manhã seja linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde eu o derrotarei'."

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