segunda-feira, 7 de abril de 2025

O PACTO



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Quando iniciava seu caminho de volta ao catolicismo, em 1982, depois de um período em que abjurou a fé e aderiu a seitas demoníacas, Paulo esteve em Praga em companhia de Christina, com quem já estava casado, em meio a uma longa viagem no estilo hippie rico dos dois pela Europa.

Ao passar pela sombria rua Karmelitská, entrou na pequenina Igreja de Nossa Senhora da Vitória, espremida entre residências simples e lojas de souvenires religiosos, para fazer uma promessa ao Menino Jesus de Praga. A presença de alguém do Brasil ali não chamava atenção. 

Desde tempos imemoriais, e por razões inexplicadas, cristãos brasileiros sempre manifestaram devoção pelo garoto santificado no século XVII, o que pode ser medido, ao menos no Brasil, pela infinidade de anúncios classificados que há décadas são publicados em jornais de todo o país, nos quais os fiéis escrevem apenas uma frase, seguida da inicial de seus nomes:

"Ao Menino Jesus de Praga, pela graça alcançada. D."

Como milhões de seus compatriotas, Paulo também tinha um pedido a fazer, e não era pequeno. Ajoelhou-se no pequeno altar lateral, onde está exposta a imagem do menino, fez uma oração e murmurou de forma inaudível até para Christina, que estava ao lado:

— Eu quero ser um escritor lido e respeitado no mundo inteiro.

Sim, ele sabia que era um pedido e tanto, e que o pagamento tinha de ser à altura.


By Fernando Morais

In: O mago: a incrível história de Paulo Coelho

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