quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Fortuna, cartunista dos cartunistas

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O poeta e romancista argentino Jorge Luis Borges dizia que o escritor publica um livro para livrar-se dele. Quando reli isso, lembrei do Fortuna.

Fortuna era exatamente o contrário. Não queria se livrar de suas criações. Extremamente metódico e detalhista, passava horas e horas, às vezes, dias e dias, fazendo e refazendo um único texto ou desenho.

Não tinha pressa nenhuma de livrar-se deles. E eles não pareciam o incomodar. Divertia-se modificando um parágrafo, uma frase de um texto; o nariz, a boca ou outro detalhe qualquer que achava que não estava perfeito em seus desenhos.

Por isso sua produção de 45 anos de trabalho é relativamente pequena. Apesar de escrever muito bem, aliás, ele tem pouquíssimos textos publicados.

Pessoalmente, conheci pouco For- tuna. Mas conheço grande parte de sua obra. Ou aquela parte da qual ele “livrou-se”.

Reginaldo José de Azevedo Fortuna nasceu em São Luís do Maranhão, em 1931. Aos 16 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira publicando trabalhos nas revistas infantis como ‘Sesinho’, ‘Vida Infantil’, ‘Vida Juvenil’ e ‘Tico-Tico’.

Em 1959, foi trabalhar na revista ‘Senhor’, onde conheceu o cartunista Jaguar. Na década de 1960 ele passou a editar, junto com Ziraldo, a seção de humor ‘O Centavo’, publicada na revista ‘O Cruzeiro’, então a mais importante do país.

Em 1964, vai trabalhar como diretor de arte na revista ‘Pif-Paf ’, dirigida por Millôr Fernandes. Em 1969, junto com Tarso de Castro, Jaguar, Sérgio Cabral, Ziraldo e Henfil, entre outros, fez parte da equipe que criou o semanário ‘O Pasquim’.

Em 1975, edita pela Codecri a revista ‘O Bicho’ e muda-se para São Paulo, onde, dois anos depois, inicia uma parceria com Tarso de Castro no suplemento ‘Folhetim’, publicado pelo jornal ‘Folha de São Paulo’. A parceria se estende ao semanário ‘Enfim’ (1979) e à revista ‘Careta’ (1980).

Como escritor, publica os livros ‘Hay Gobierno!’ (1964); ‘Aberto para Balanço’ (1980); ‘Diz, Logotipo’ (1990); e ‘Acho Tudo Muito Estranho’, em 1992.

Millôr Fernandes dizia que o grande mal do Fortuna é que todo mundo o levava a sério. Nunca foi tratado com a hilaridade que seria o caso.

Seu nome é uma ironia. Nunca ganhou o quanto merecia. Começou desenhando sob o pseudônimo de Ricardo Forte. Outra ironia. Passou a assinar Fortuna por sugestão do Millôr.
Morreu em 5 de setembro de 1994, em São Paulo.

By Ediel (Cartunista e escritor)
O Dia


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